Este texto é uma reportagem que fiz nos meus tempos de Sexy, em abril de 2015. Talvez à que mais me apeguei. Anos depois, tornei-me terapeuta tântrico. O motivo pode ser lido abaixo:
Orgasmos Transcendentais
Como o tantra me ensinou a ter e proporcionar orgasmos que duram uma hora e levam a gente para um lugar onde não há consciência
Eu jurava que vivia orgasmicamente satisfeito. Desde que aprendi como me dar prazer, ainda na adolescência, ter orgasmos nunca foi algo difícil. A descoberta do sexo e do amor, anos depois, só melhoraram a cena. Posso dizer que… bom, eu gozava a vida. Até que uma experiência me mostrou que o orgasmo é algo imensamente maior do que eu conhecia.
Quanto tempo dura um típico orgasmo masculino? Menos de dois segundos. Agora imagine que essa sensação pudesse se manter por até uma hora. Isso é possível. Orgasmos do tipo que você ri e chora, grita com toda a sua força e sente seus músculos se contraírem involuntariamente. Ah, e múltiplos. A coisa só melhora quando você descobre que não é preciso ejacular, nem mesmo estar de pau duro. É sério.
Aprendi a proporcioná-los também. E poucas coisas são mais bonitas do que contemplar sua mulher descobrindo patamares inimagináveis de prazer, urrando e tendo contrações abdominais fortíssimas. Há mulheres que, inclusive, chegam a ejacular.
Os três dias do Treinamento Multiorgástico para casais que passamos no Centro Metamorfose nos levaram a um lugar que não imaginávamos existir. Chegamos a um estado alterado de percepção, onde não há consciêcia, só sensação. Acredite, eu gostaria que todas as pessoas no mundo pudessem sentir o que eu senti.
Quem procura o Centro Metamorfose no Google lê antes de clicar no link: Centro Terapêutico focado no Desenvolvimento, Pesquisa e Expansão da Sexualidade Humana. Difundimos os princípios do Tantra, o Caminho do Amor. Não sabe direito o que é o Tantra? Dá um pulo no box que está mais pra frente antes de continuar.
Por trás do Centro Metamorfose está Deva Nishok, que estuda o tantra desde 1996 e já passou por uma infinidade de experiências antes de desenvolver uma técnica única, que deixou um pouco o misticismo de lado para se focar em manobras de massagens, que se mostraram capazes de curar todo tipo de problemas como anorgasmia masculina ou feminina, ejaculação precoce, problemas de ereção, além de aumentar a libido do homem ou da mulher, tonificar e alongar os músculos pélvicos. Sem falar que quem não sofre de nada disso poderá se ver diante de um prazer monumental ao perceber que qualquer parte do corpo é capaz de causar um orgasmo. “Infelizmente nós, humanos, só aprendemos a usar sua energia sexual através dos genitais, mas ela pode ser utilizada de diferentes maneiras. O grande paradoxo é que aprendemos a usar os genitais por meio da masturbação, só que o orgasmo está muito mais atrelado a um estímulo na mente. É um orgasmo psicogênico. Você faz um esforço manipulatório com as mãos para acompanhar o padrão da sua mente fantasiosa.”
Isso porque nem estamos falando da culpa com que algumas pessoas encaram a masturbação e a sexualidade. A repressão faz com que não exploremos toda nossa carga muscular. “Na atividade sexual humana apenas os músculos sexuais são utilizados e isso não é satisfatório para dar um orgasmo de longo tempo, de 40 minutos, uma hora”, diz Nishok.
Opa! Uma hora de êxtase? Isso é possível? Sim, totalmente. As técnicas de Nishok são capazes de causar descarga neuromuscular, que libera grandes proporções de energia e faz com que a mente se expanda. Na visão do tantra, esse verdadeiro orgasmo é a chave para elevar-se espiritualmente e se conectar com outras formas de vida (biológicas ou não). “A carga é terapêutica sem ser sexual. O orgasmo é livre do sexo. O foco no homem é o prazer orgástico, em que a ejaculação não é a ênfase. É orgasmo seco. Com isso há uma mudança nos paradigmas. Isso é ao contrário na mulher, em que a ejaculação é bem-vinda. E quando isso acontece a mulher experimenta um orgasmo transcendental, místico. Além disso, se você quiser manter sua ereção por uma hora, você vai manter”, contou. “A título de comparação, imagine que um orgasmo corriqueiro seja um disparo de 10 volts. O que podemos vivenciar é algo de 10 mil volts.” Eu não precisava de mais nada pra me convencer a conhecer isso.
O orgasmo seco
Para que eu e minha mulher aproveitássemos melhor o curso, fomos orientados a fazer uma massagem em uma das unidades terapêuticas do Metamorfose, espalhadas por 21 estados brasileiros e na Europa. Na unidade dos Jardins, em São Paulo, nos recebeu Edna Pereira, também conhecida como Hyanna Prem, terapeuta formada em Fisioterapia e pós-graduada em Fisiologia e Sexologia, e atende há quatro anos, casais ou não.
O que rolou foi o seguinte. Entramos os dois em uma sala preparada para a massagem e Edna começou a nos fazer algumas perguntas. Essa é a hora que ela tem para ouvir queixas dos pacientes, em uma tradicional conversa terapêutica. Fim de papo, saí, deixando minha mulher na sala. A yoni (que significa vagina em sânscrito) massagem ia começar.
Fingi naturalidade, saí e, claro, fiquei com os ouvidos grudados na porta. Uma música de relaxamento começou a tocar. Veio outra e outra e com o tempo notei que elas iam se intensificando, acompanhando os gemidos que eu escutava. Já passava de quarenta minutos quando os primeiros gemidos começaram a se transformar em gritos, gargalhadas e, depois, em um choro que parecia incontrolável. Confesso que senti um misto de invejinha por nunca ter ouvido minha mulher daquele jeito, com vontade de aprender aquilo de qualquer maneira. Quanto ao choro, Edna nos contou que é natural: “Quando as pessoas atingem alguns níveis de prazer, é normal que saiam algumas coisas que estão presas. Uma dor, uma gargalhada. Tem gente que chega até a vomitar. É a forma que o corpo encontra para eliminar algo que está ali”. Não à toa, esse tipo de massagem é muito procurado por quem sofreu algum trauma e quer resolvê-lo de forma não verbal.
Minha vez. Entrei na sala, tirei toda a roupa e deitei de bruços enquanto Hyanna preparava a música. À meia-luz, o som cria uma atmosfera de relaxamento e ela pede para que eu me concentre apenas na música e na minha respiração. Aí começa o que Nishok chama de Sensitive Massage. Nas palavras dele mesmo: “É uma massagem que nós realizamos de uma forma muito suave, passando a mão com a ponta dos dedos, num fluxo constante, por todo o corpo da pessoa”. Conforme tudo isso acontecia, meu corpo começava a dar espasmos aleatórios. É a energia se espalhando. Aos poucos a música vai ficando mais intensa e começa a lingam massagem, ou seja, a manipulação do pênis. Com muito K-med Hot (e alguns terapeutas indicam expressamente esse lubrificante), ela começa a massagear a região interna das minhas coxas, em uma espécie de drenagem linfática que leva os líquidos para a região genital.
Em alguns minutos ela segura meu pau de várias formas que, como estava de olhos fechados, eu não consigo descrever. São manobras que nada têm a ver com a masturbação e aquilo me leva pela primeira vez a um estado meditativo muito intenso. Fui levado a um lugar em que nada é verbal. “Você teve dois orgasmos secos”, ela falou ao final daquela avalanche que durou pouco mais de uma hora. Precisei de uns bons dez minutos para recompor as energias para me erguer novamente. E de um dia para digerir tudo aquilo.
Saímos de lá com um sorriso no rosto e o aval: tínhamos totais condições de fazer a Delerium. Antes de se despedir, Edna profetizou: “Se vocês acharam intenso, vão se surpreender com a Delerium”
Uma experiência oceânica
A Delerium é um workshop para ensinar casais um pouco da técnica desenvolvida por Nishok. O bacana é que, além de ser extremamente prazeroso, promove uma reconexão muito forte na relação entre homem e mulher. E o melhor: dá para repetir tudo em casa, depois. As duas noites e três dias de ensinamentos ocorreram na Comuna Metamorfose, um recanto lindo em meio à natureza, em Itapeva, no interior paulista. Quando nos demos conta, eu e minha mulher estávamos em um salão espaçoso, de frente para um vale, e ao lado de mais 24 casais, para viver o que, para nós, seria uma experiência totalmente transformadora.
Epa, peraí! Fica todo mundo pelado um na frente do outro?! Sim e não. Sim, porque os casais de fato se espalham pelo salão e, para dar início às práticas, tiram a roupa, já que o tecido acaba freando o fluxo de energia. E não, porque, a partir do momento em que você se entrega de corpo e alma ao seu parceiro, não há muito espaço para ficar olhando para o lado. Muito menos para erotização.
As práticas são conduzidas por dois terapeutas, no nosso caso, Shantideva e Antar Premali. É curioso que apesar de esses nomes, os chamados sannyas, darem uma noção de autoridade inalcançável, Shantideva, que também responde por Osmar, e Antar Premali, que prefere não usar seu nome de batismo, são duas pessoas completamente normais, casados há 14 anos e vivendo em BH. Ele, administrador de empresas, estava indo fazer um doutorado na Austrália quando descobriu o Metarmofose. “Eu vivia a vida numa esfera muito racional, não ligava muito pra essas coisas de cunho emocional. Mas percebi que precisava sentir mais as coisas. Ali me toquei que estava meio congelado nessas esferas. Eu não era uma pessoa serena, eu era uma pessoa congelada. Só que isso estava prejudicando a relação com minha mulher. Até que uma amiga dela chegou com uma reportagem de revista que falava do Metamorfose, mas também do curso de massagem. E esse caminho me interessou.” No final das contas, Osmar participou não só do curso, mas de outras 36 atividades do Metamorfose, uma delas o curso pra terapeuta, há dois anos.
A primeira parte dos ensinamentos, a Sensitive, rola na sexta à noite. É natural que os casais cheguem um pouco tensos e, por isso, o curso começa mais suavemente, com algumas técnicas de meditação que aumentam a conexão entre os parceiros. É o caso do Giro Tântrico, em que a mulher senta de frente no colo do homem, olha em seu olho e, ao som da música, os dois começam a movimentar o tronco de forma circular e simultânea, ou do Tratak, uma técnica de meditação em que um se foca apenas no olho do outro, como que dando uma autorização para o que virá. Quando chega a hora da Sensitive, as sensações já estão à flor da pele. Mais de uma hora
depois, um tempo pra relaxar e assimilar a energia. E, antes de ir dormir, uma recomendação: “Não transem”.
A ideia de pedir para que os casais não façam sexo é justamente para dar espaço para algo diferente. Gastar a energia sexual em um caminho mental e já conhecido seria um desperdício. Outras restrições, que estão inclusive nas normas da Comuna Metamorfose, são álcool, tabaco e outros tipos de drogas. Shantideva explica: “Algumas coisas que você quer acessar são sensações muito sutis. E sob efeito de álcool ou alguma outra droga, algumas dessas sensações talvez ficassem confundidas ou inacessíveis. Por exemplo, a experiência feromonial é sutil, mas à medida que você sente o feromônio, aquilo vai te dando um barato”.
Taí outra coisa impressionante e nova. Ficar doidão de feromônio, o cheiro do prazer. Pra libertar esse perfume natural do sexo, os terapeutas ensinam que é preciso lamber a parceira com uma grande quantidade de saliva em locais específicos, como pescoço, axila, intervalos entre os dedos, dobras como joelho ou cotovelo… Depois é só voltar cheirando com toda a força e sentir o barato bater. Vale a pena.
Sábado é um dia cheio de ensinamentos: as mulheres aprendem a lingam massagem, os homens aprendem a yoni massagem e a extrusão da glande clitoriana, em que você suga com a boca a pontinha do clitóris e, com a língua, lambe essa região pra lá de sensível da parceira com padrões circulares e em cruz. E nessa hora, meu amigo, prepare-se para dar uma avalanche de prazer para sua parceira.
Diz a lenda que Nishok fez uma extrusão de quatro horas em sua ex-mulher, algo pelo qual ela até hoje o agradece. A julgar pelo que vi acontecer em só uma hora de prática, dá pra dizer que essa mulher é mesmo uma sortuda. “Esta mulher, que depois veio a ser minha esposa, nunca tinha tido um orgasmo aos 36 anos. Em quatro horas de extrusão, ela conseguiu alcançar seis dos dez platôs do prazer”, conta ele. Em tempo: embora não seja terapeuticamente necessário, a mulher também é capaz de fazer uma extrusão da glande peniana e é muito prazeroso.
Enfim chegamos à yoni massagem, que também demanda muito óleo, dedicação e um vibrador do tipo bullet. Shantideva ensina cuidadosamente como manipular os grandes e pequenos lábios, dando a devida atenção a eles, antes de chegar ao clitóris, que é onde a coisa toda pega
fogo. Quando chega a hora, sempre com muita música, ele mostra como segurar o cordãozinho que forma o corpo clitoriano. Como já rolou a extrusão, encontrá-lo fica bem mais fácil. É ali que o vibrador entra e faz o universo da mulher se expandir. Não é raro que ela chegue a um nível tão intenso de prazer que acabe ejaculando.
Uma última técnica nos é ensinada para que cheguemos à prática final com todas as armas em punho. É a penetração passiva, em que o homem, ereto, penetra a parceira e se mantém imóvel, enquanto ela mantém o bullet vibrando ao lado do corpo clitoriano. A ideia é que essa técnica incentive os anéis vaginais a fazer seus movimentos mastigatórios, algo parecido com o pompoarismo. “A diferença é que no pompoarismo a contração do assoalho pélvico se dá por um controle mental e na penetração passiva, não. Os músculos intravaginais se contraem com muita intensidade e sem qualquer controle mental. Isso massageia o lingam, que leva à subida da energia de uma forma totalmente diferenciada”, comenta Premali.
O grande dia
A manhã de domingo foi o dia de colocarmos tudo em prática em pouco mais de três horas de atividades. Foi lindo. Uma experiência oceânica, como eu ouvi muitas vezes falar que seria. É um termo que tem muito a ver com o que Shantideva falava ao microfone, enquanto os casais permaneciam abraçados, em uma clara conexão de amor: “Todo rio tem medo quando está se aproximando do oceano e, a princípio, desaguar no oceano é desaparecer. E não há como voltar atrás porque aquele rio flui para a evolução. Mas aos poucos o rio percebe que não é desaparecimento, e, sim, fusão com uma coisa muito maior. E quando o rio se funde é renascimento e não morte”.
Saímos de lá no domingo sentindo como se uma grandiosidade tivesse tomado conta de nós. “Você fica num estado meio pastoso, menos mental. Às vezes o corpo tá todo eletrificado, mas você não quer racionalizar nada. E ao mesmo tempo em um estado mais amoroso. Isso acontece cada vez que você leva seu corpo a mudar o padrão energético. Isso libera um coquetel hormonal de serotonina, ocitocina e endorfina”, arrematou Shantideva. É uma sensação divina.
Fotos: Beard Studio | Edição de arte: Estúdio Febre | Modelos: @Vinícius Silverio e Gabriela Levinnt